sábado, 12 de dezembro de 2009

12 de dezembro - Dia de Nossa Senhora de Guadalupe


HISTÓRIA: Os registos sobre as quatro aparições de Nossa Senhora de Guadalupe relacionam-se com o México. Dez anos após a tomada da Cidade do México, a guerra chegou ao fim e começou a brotar a fé. Em 1531, no princípio do mês de Dezembro, um pobre índio, Juan Diego, antes do amanhecer, seguia o seu culto divino. Ao chegar ao topo da montanha Tepeyacac, o Sol nasceu e ele ouviu o canto dos pássaros. Mas de vez em quando as vozes cessavam e parecia que o monte lhes respondia. O som, muito suave, fez com que Juan Diego parasse e dissesse: «Porventura sou digno do que ouço? Será um sonho? Ou estarei a chegar ao paraíso terrestre de que os mais velhos nos falam? Ou, quem sabe, estarei no céu?...» Olhando para o Oriente, de onde vinha o canto celestial, ouviu uma voz que chamava pelo seu nome. Foi ver... Quando alcançou o topo da montanha viu uma Senhora, parada, que lhe disse para se aproximar. Mais de perto, maravilhou-se com a sua beleza. O seu vestido era radiante como o Sol, o penhasco onde estavam os seus pés brilhava e parecia uma pulseira de pedras preciosas. A terra cintilava como um arco-íris. As próprias ervas daninhas pareciam ali esmeraldas, pois a folhagem e os ramos brilhavam como ouro. Encantado, Diego inclinou-se diante da Senhora e ouviu a Sua palavra: «Juanito, o mais humilde dos meus filhos, onde vais?...» Ele respondeu: «Minha Senhora e Menina, tenho de chegar à Vossa igreja no México para seguir as coisas divinas.» Ao que a Senhora respondeu: «Desejo que um templo seja construído aqui, rapidamente; então poderei mostrar todo o meu amor, compaixão, socorro e protecção, porque Eu sou vossa piedosa Mãe e de todos os habitantes desta terra e de todos os outros que me amam, invocam e confiam em mim. Ouço todos os vossos lamentos e remedeio todas as vossas misérias, aflições e dores. E para realizar o que a minha clemência pretende, vai ao palácio do Bispo do México e diz-lhe que manifesto o meu grande desejo: que aqui neste lugar seja construído um templo para mim. Vai, e coloca neste pedido todo o teu esforço.»

Juan Diego desceu e seguiu em direcção à Cidade do México. Entrado na cidade, foi directamente ao palácio do Bispo, um franciscano. Procurou vê-lo, pedindo ao criado que o anunciasse. Esperou muito tempo... Entrou, ajoelhou-se e contou ao Bispo a mensagem que recebera de Nossa Senhora, bem como tudo que havia visto, escutado e admirado. Porém, o Bispo, incrédulo, disse-lhe: «Volta depois, meu filho, e eu ouvir-te-ei com muito prazer. Examinarei tudo e pensarei bem no assunto.» Juan Diego saiu triste, porque a sua mensagem não fora ouvida. Mas voltou ainda no mesmo dia ao sítio onde falara com a Senhora. Ela esperava-o no mesmo lugar. Queixou-se então da atitude do Bispo: «Entendo pelo seu modo de falar que não acredita em mim. Por isso encarecidamente Vos peço, Senhora minha, que informeis alguém mais importante, bem conhecido, respeitado e estimado, para que acreditem. Porque eu não sou ninguém, sou uma simples folha na floresta.» A Virgem respondeu: «Deves entender que tenho vários servos e mensageiros, aos quais posso encarregar de levar a mensagem e executarem o meu desejo, mas eu quero que tu mesmo o faças. Tu vais em meu nome, e pede a construção do templo como Eu pedi!» No dia seguinte, antes do amanhecer, deixou a sua casa e foi de novo ver o Bispo. Ajoelhou-se diante dos seus pés e, chorando, expôs a ordem de Nossa Senhora. O Bispo fez várias perguntas, mas apesar da precisa descrição da imagem da Senhora, o Bispo insistia que seria preciso um «sinal». Desiludido, Juan voltou para junto da Virgem Santíssima, contando--lhe a resposta que trazia do Bispo. A Senhora disse-lhe: «Muito bem, levarás ao Bispo o sinal por ele pedido. Com isso ele irá acreditar em ti, e nunca mais duvidará deste pedido.» Quando Juan Diego ouviu estas palavras, ficou consolado. Prometeu que iria então levar o sinal ou prova, a fim de que acreditassem nele. A Senhora ordenou que subisse ao topo da montanha, e que levasse algumas flores. Colhendo-as rapidamente, entregou as diferentes rosas e a Senhora tocou-as com as suas mãos, dizendo: «Esta variedade de rosas é a prova e sinal que levarás ao Bispo. És meu embaixador, digno de confiança. Ordeno-te que apenas diante da presença do Bispo desenroles o manto e descubras o que vai dentro dele.» No palácio do Bispo, os criados tentaram ver o que Juan Diego carregava. Com cuidado, ele descobriu o manto e eles puderam ver algumas flores; ao verem que eram rosas fora de época, ficaram impressionados. Estenderam a mão para as rosas, mas, ao tentar mexer-lhes, elas pareciam pintadas ou estampadas no tecido. Ao relatarem esse facto ao Bispo, ele compreendeu finalmente que Juan Diego trazia consigo a prova desejada. Recebeu-o, e quando as rosas caíram ao chão apareceu a imagem de Nossa Senhora, tal como é vista ainda hoje no templo que foi construído em sua honra, chamado «Nossa Senhora de Guadalupe». Diz-se que a imagem peregrina de Nossa Senhora verteu lágrimas em 1994.


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Hoje é dia de SANTA ISABEL DA HUNGRIA, padroeira da Ordem Terceira

Diz a lenda que Isabel foi invocada mesmo antes de nascer. Um vidente anunciou seu glorioso nascimento como estrela que nasceria na Hungria, passaria a brilhar na Alemanha e se irradiaria para o mundo. Citou-lhe o nome, como filha do rei da Hungria e futura esposa do soberano de Eisenach (Alemanha).

De fato, como previsto, a filha do rei André, da Hungria, e da rainha Gertrudes, nasceu em 1207. O batismo da criança foi uma festa digna de reis. E a criança recebeu o nome de Isabel, que significa repleta de Deus.

Ela encantou o reino e trouxe paz e prosperidade para o governo de seu pai. Desde pequenina se mostrou de fato repleta de Deus pela graça, pela beleza, pelo precoce espírito de oração e pela profunda compaixão para com os sofredores.

Tinha apenas quatro aninhos quando foi levada para a longínqua Alemanha como prometida esposa do príncipe Luís, nascido em 1200, filho de Hermano, soberano da Turíngia. Hermano se orientava pela profecia e desejava assegurar um matrimônio feliz para seu filho.

Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria companheira para Luis. E a perseguiam e maltratavam, dentro e fora do palácio.

Luis, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de casar-se quanto antes. O que aconteceu em 1221.

A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Certa vez, Luis a surpreendeu com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder... Mas ele, delicadamente, insistiu e... milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno inverno. Feliz, guardou uma delas.

Sua vida de soberana não era fácil e freqüentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso, os filhos, Hermano, de 1222; Sofia, de 1224 e Gertrudes, de 1227.

Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que o duque Luis se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.

Quando Luis ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos a chegar na Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter freqüentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Familia Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!

Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e a expulsaram do castelo de Wartburgo. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno inverno. Duas servas fiéis a acompanharam, Isentrudes e Guda.

De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, Lá dentro dela o Senhor a chamava para doar-se ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburgo e lá foi morar com suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legitimo de Luis. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de fato feliz. Por ordem do confessor, conservou alguma renda, toda revertida para os pobres e sofredores.

Construiu abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela se sentia de fato rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de dar-lhes maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!

De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. Suas servas atestam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade os sacramentos dos enfermos. Quando seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre herança, respondeu tranqüila: "Minha herança é Jesus Cristo !" E assim nasceu para o céu! Era 17 de novembro de 1231.

Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira das Irmãs da Ordem Franciscana Secular.

FREI CARMELO SURIAN, O.F.M.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009


A vida franciscana é assim...
Assumir o compromissso com a fraternidade e com a missão...
Celebrar a vida e a fé...

Defender...a natureza...e toda criação....
Partilhar...a vida, a fé, a Esperança!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ordenação Presbiteral de Fr. Duván Tarbaquino, OFM



terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Espírito de Assis: Dia Mundial de Oração pela Paz

Carta do Ministro Geral - "Espírito de Assis"

Queridos irmãos e irmãs, O Senhor te dê a Paz!
Vinte anos atrás, o servo de Deus João Paulo II tomou a iniciativa de convocar, em Assis, os representantes das várias confissões cristãs e de diversas religiões para implorar ao único Deus de todos o dom da paz, para reafirmar juntos o comum desejo de viver em harmonia, e para compreender, diante do Senhor, como sermos construtores da paz no pensamento, no coração e na ação. Aquele 27 de outubro de 1986 “significou uma vibrante mensagem em favor da paz, e se revelou como um evento destinado a deixar um sinal na história” (Bento XVI, Mensagem por ocasião do 20º aniversário do Encontro Inter-religioso de oração pela paz em Assis, 2 de setembro de 2006).
De modo particular, João Paulo II, sempre que se produziam atos terroristas, guerras, desespero, injustiças, dúvidas e incompreensões, que colocaram seriamente em risco o destino da humanidade, propôs aos que têm fé e aos homens de boa vontade, que peregrinassem a Assis, e os convidava em muitas circunstâncias, a se inspirar, para a construção de um mundo mais justo e solidário, no “espírito de Assis”.
Por que Assis? Na última peregrinação, no dia 24 de janeiro de 2004, e não somente na última, o mesmo João Paulo II respondia: “Nos encontramos em Assis onde tudo fala de um singular profeta da paz, chamado Francisco”. E o testemunho que Francisco “deu em seu tempo - confirma Bento XVI em sua mensagem citada - é um natural ponto de referência para todos os que hoje cultivam o ideal da paz, o respeito à natureza, o diálogo entre as pessoas, entre as religiões e as culturas”. Ponto de referência e de estímulo para todos aqueles que de fato se interessam pelo futuro da família humana e da “causa” do homem, e de maneira particular, para nós, franciscanos, que fomos gerados pelo “espírito de Assis”, e somos seguidores do Poverello, que encarnou “de maneira exemplar as bem-aventuranças proclamadas por Jesus no Evangelho: ‘Felizes os que trabalham pela paz, porque serão chamados de filhos de Deus’.
Frei José Rodríguez Carballo, 2006Carta do Ministro Geral pelo 20º aniversário do "Espírito de Assis"

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

DIA NACIONAL DA JUVENTUDE - 2009

Tema: Contra o extermínio da juventude, na luta pela vida
Lema: “Juventude em marcha contra a violência”
Neste ano completamos 24 DNJs acontecidos. Alegra-nos o testemunho e a persistência das Pastorais da Juventude ao ser voz das multidões silenciadas; ao pautar temáticas na defesa da vida e dos direitos juvenis, confrontando com o modo pelo qual a juventude é considerada pelo estado brasileiro, pela sociedade, pelas famílias, pela Igreja. É hora de avançar! O DNJ já não encontra mais sentido isoladamente. Ele se liga à Campanha da Fraternidade – que acontece durante a quaresma e às atividades permanentes das PJs: Semana da Cidadania – de 14 a 21 de abril e Semana do/a Estudante – 09 a 15 de agosto. O DNJ é parte de um todo maior que busca a dignidade jovem; ele celebra as lutas anuais dos/as jovens organizados; é a mobilização maior, concentrando multidões de jovens que buscam novas relações de vida pautadas na justiça social, no poder popular, na legitimidade da diversidade, no protagonismo juvenil, na educação libertadora, na construção da paz.
FONTE:www.pj.org.br

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ASSIS CHAMADA À PAZ




Papa Bento XVI
Oito séculos atrás, à cidade de Assis seria difícil poder imaginar o papel que a Providência lhe designava, um papel que faz dela uma cidade sumamente conhecida no mundo, um autêntico «lugar da alma». Quem lhe deu este caráter foi um acontecimento que sucedeu aqui e que lhe imprimiu um sinal indelével. Refiro-me à conversão do jovem Francisco, que depois de 25 anos de vida medíocre e sonhadora, caracterizada pela busca de alegrias e êxitos mundanos, abriu-se à graça, recolheu-se interiormente e pouco e pouco reconheceu em Cristo o ideal de sua vida. Minha peregrinação de hoje a Assis quer recordar aquele acontecimento para viver seu significado e sua amplitude.
Detive-me com particular emoção na pequena igreja de São Damião, na qual Francisco escutou do Crucifixo a frase programática: «Vai, Francisco, reconstrói a minha casa» (Relato de Celano (2 Cel I, 6, 10). Era uma missão que começava com a plena conversão de seu coração para converter-se depois em fermento evangélico espalhado a mãos cheias na Igreja e na sociedade.
Em Rivotorto vi o lugar no qual, segundo a tradição, eram relegados aqueles leprosos de quem o santo se aproximou com misericórdia, começando assim sua vida de penitente, e visitei ao santuário que recorda a pobre morada de Francisco e de seus primeiros irmãos.
Estive na Basílica de Santa Clara, e na tarde de hoje, depois da visita à catedral de Assis, me deterei na Porciúncula, onde Francisco guiou, à sombra de Maria, os passos de sua fraternidade em expansão, e onde exalou seu último respiro. Ali encontrarei os jovens para que o jovem Francisco, convertido a Cristo, lhes fale ao coração.
Neste momento, desde a Basílica de São Francisco, onde repousam seus restos mortais, desejo sobretudo fazer meu seu louvor: «Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são os louvores, a glória e a honra e toda benção» («Cântico do Irmão Sol» 1). Francisco de Assis é um grande educador de nossa fé e de nosso louvor. Ao enamorar-se de Jesus Cristo, encontrou o rosto de Deus-Amor, converteu-se em seu cantor apaixonado, autêntico «cantor de Deus». À luz das Bem-aventuranças evangélicas se compreende a mansidão com que soube viver as relações com os demais, apresentando-se a todos com humildade e fazendo-se testemunha e agente de paz.
Desde esta cidade da paz quero enviar uma saudação aos expoentes das demais confissões cristãs e das demais religiões que em 1986 acolheram o convite de meu venerado predecessor a viver, aqui, na pátria de São Francisco, uma Jornada Mundial de Oração pela Paz. Considero que é meu dever lançar desde aqui um importante e sincero chamado para que cessem todos os conflitos armados que sangram a terra. Que se calem as armas e que por toda parte o ódio ceda ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união!
Sentimos espiritualmente aqui presentes todos os que choram, sofrem e morrem por causa da guerra e de suas trágicas conseqüências, em qualquer parte do mundo. Nosso pensamento se dirige em particular à Terra Santa, tão querida por São Francisco, ao Iraque, ao Líbano, a todo Oriente Médio.
As populações desses países experimentam, há já muito tempo, os horrores dos combates, do terrorismo, da violência cega, a ilusão de que a força pode resolver os conflitos, a negativa em escutar as razões do outro e fazer-lhes justiça. Só um diálogo responsável e sincero, sustentado pelo generoso apoio da comunidade internacional, poderá acabar com tanta dor e voltar a dar a vida e dignidade a pessoas, instituições e povos.
Que São Francisco, homem de paz, alcance-nos do Senhor a graça da multiplicação do número de quem aceita converter-se «em instrumentos de sua paz» através de milhares de pequenos atos da vida cotidiana. Que quem tem cargos de responsabilidade esteja animado por um amor apaixonado pela paz e por uma vontade firme de alcançá-la, escolhendo os meios adequados por alcançá-la.
Que a Virgem Santa, a quem o «pobrezinho» amou com coração terno e a que cantou com tom inspirado, ajude-nos a descobrir o segredo da paz no milagre de amor que aconteceu em seu seio com a encarnação do Filho de Deus.
Homilia proferida em Assis, no dia 17.06.2007

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

EU SÓ PEÇO A DEUS




Beth Carvalho






Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o q’eu queria

Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o que eu queria



Eu só peço a Deus
Que a injustiça não me seja indiferente
Pois não posso dar a outra face
Se já fui machucada brutalmente

Eu só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e pisa forte
Toda fome e inocência dessa gente


Eu só peço a Deus
Que a mentira não me seja indiferente
Se um só traidor tem mais poder que um povo
Que este povo não esqueça facilmente


Eu só peço a Deus
Que o futuro não me seja indiferente
Sem ter que fugir desenganando
Pra viver uma cultura diferente


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A "ORAÇÃO PELA PAZ" ATRIBUÍDA A SÃO FRANCISCO


Frei Adelino G. Pilonetto, OFM Cap

Quem não conhece a oração que principia com as palavras: Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz? E quem não a aprecia também? Conhecida como Oração pela Paz, Oração do Amor, Oração simples ou, ainda, Oração de São Francisco, ela tem um sabor todo ecumênico e expressa conteúdos de tanta sinceridade e beleza que encontra ressonância obrigatória no coração das pessoas. "Seus conteúdos correspondem às aspirações íntimas dos melhores cristãos de nosso tempo" (1) . Nós gostamos de rezá-la e, certamente, Francisco aprecia que a rezemos. Entretanto, a mencionada oração não é de São Francisco, é apenas atribuída a ele.

Nem se trata de uma oração tão antiga, embora sejam antigas as suas raízes. Foi certamente atraídos por sua simplicidade, pertinência e beleza que os franciscanos se afeiçoaram a ela e, inadvertidamente, a adotaram como própria. Por razões semelhantes, ela foi atribuída a São Francisco de Assis. Quanto ao modo como isso aconteceu, é o que veremos a seguir, adiantando, porém, que não é grande coisa o que sabemos a respeito desse apócrifo, tão célebre quanto misterioso (2).

1. Como surgiu essa oração
Parece que surgiu pouco antes da Primeira Guerra Mundial. Suas origens são obscuras, seu autor é desconhecido, e parece que poucos lhe deram importância logo ao aparecer. "A Oração da Paz apareceu pela primeira vez em 1913 numa pequena revista local da Normandia, na França. Vinha sem referência de autor, transcrita de uma outra revista tão insignificante, que nem deixou sinal na história, pois não foi encontrada em nenhum arquivo da França" (3).

A Oração pela paz, entretanto, ganhou notoriedade depois que foi publicada no Osservatore Romano, em 20 de janeiro de 1916 e, alguns dias depois, em 28 de janeiro do mesmo ano, no conhecido diário católico francês La Croix. Em 1917, foi divulgada com um título chamativo: "Oração para uso dos que querem colaborar na preparação de um mundo melhor" (4).

Quem a enviou ao Papa Bento XV, juntamente com outras orações pela paz, foi o Marquês de la Rochetulon, fundador do semanário católico Souvenir Normand. Nessa época, em toda parte faziam-se orações instantes pela paz, uma vez que a Europa inteira debatia-se com os fantasmas medonhos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Pelos termos de agradecimento que o Cardeal Gasparri enviou, em nome do Papa, ao Marquês de Ia Rochetulon, soube-se que aquelas orações, inclusive a que seria depois atribuída a São Francisco, eram todas dirigidas ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção que vinha se expandindo com muito fervor desde o final do século XIX e com a qual "se pretendia resgatar uma dimensão esquecida no cristianismo tradicional: a riqueza da santa humanidade de Jesus, de seu amor incondicional, de sua misericórdia, de seu enternecimento para com todos, especialmente para com os pobres e os pecadores, as crianças e as mulheres". (5 )

A partir desse contexto, a Oração pela Paz ganhou asas e correu mundo, recebendo acolhida entusiasta de cristãos e mesmo de seguidores de outras religiões, que nela encontravam a expressão inspirada de ancestrais desejos de união e de paz.

2. Como foi atribuída a São Francisco
Temos algumas pistas que indicam como foi que essa oração anônima chegou a encontrar em São Francisco de Assis um pai adotivo e suposto autor. Não se trata de falsificação fraudulenta e sim de uma casualidade histórica, que, entretanto, contribuiu para tornar manifesta uma notável afinidade existente entre a Oração pela Paz e a espiritualidade franciscana.

Um primeiro passo se deu em torno de 1913, quando a oração foi estampada no verso de um pôster devocional que trazia a figura de São Francisco de Assis. O texto tinha simplesmente como título: "Oração pela Paz". Tempos depois, por volta de 1936, um pôster semelhante foi publicado em Londres com a mesma oração, traduzida em inglês, no verso. Desta vez, porém, ela foi atribuída diretamente ao santo representado na gravura, e recebeu como título: "Uma Oração de São Francisco". Com isto firmou ainda mais sua popularidade. Outro passo foi quando o senador americano Tom Connally leu a oração, atribuída a São Francisco, na Conferência da ONU, em 1945. Note-se que em todas as outras edições anteriores, o texto é anônimo, mesmo em revistas franciscanas, inclusive no ano do VII Centenário de São Francisco, em 1926. (6)

Leonardo Boff conta um episódio semelhante, ocorrido pouco depois da publicação da Oração pela Paz em Roma. Um franciscano que visitava a Ordem Terceira Secular de Reims, na França, mandou imprimir um cartão tendo de um lado a figura de São Francisco com a regra da Ordem Franciscana Secular na mão e, do outro, a Oração pela Paz com a indicação da fonte: Souvenir Normand. No final, uma pequena frase dizia: "essa oração resume os ideais franciscanos e, ao mesmo tempo, representa uma resposta às urgências de nosso tempo". Essa pequena frase, comenta L. Boff, permitiu que a oração deixasse de ser apenas Oração pela Paz para ser também conhecida como Oração de São Francisco, ou Oração da Paz de São Francisco de Assis. "Assim, essa oração passou a ser, simultaneamente, um resumo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e da espiritualidade franciscana" (7).

Pois há um parentesco entre a Oração pela Paz e a espiritualidade franciscana, permitindo que uma se reconheça no espelho da outra. Talvez, L. Boff exagere na fundamentação desse parentesco:

"Existe uma espiritualidade franciscana difusa no espírito de nosso tempo, nascida da experiência de Francisco, de Clara e de seus companheiros [ ... ). A Oração pela Paz, também chamada Oração de São Francisco, constitui uma das cristalizações desta espiritualidade difusa. Ela não provém diretamente da pena do Francisco histórico, mas da espiritualidade do São Francisco da fé. Ele é seu pai espiritual e por isso seu autor no sentido mais profundo e abrangente da palavra. Sem ele, com certeza, essa Oração pela Paz jamais teria sido formulada nem divulgada e muito menos teria se imposto como uma das orações mais ecumênicas hoje existentes. Ela é rezada pelos fiéis de todos os credos e por professantes de todos os caminhos espirituais" (8).

3. O conteúdo dessa oração
Além do alto teor evangélico da oração, os estudiosos identificam nela ressonâncias de temas clássicos da espiritualidade medieval, especialmente agostiniana, haja vista, as obras de misericórdia espiritual, o esquema do combate aos vícios e as virtudes. As expressões repetitivas lembram João Fécamp, um autor muito próximo da literatura franciscana dos primórdios. A segunda parte da oração apresenta semelhanças de estilo com os ditos de Frei Egídio, companheiro de São Francisco (9), e com a Admoestação 27 do próprio Santo. Esta começa dizendo: "Onde há amor .. não há temor; onde há paciência e humildade, não há ira e perturbação, etc."

A semelhança com os Ditos do Beato Egídio é maior:

"Bem-aventurado aquele que ama sem desejar ser amado.
Bem-aventurado aquele que venera sem querer ser venerado.
Bem-aventurado aquele que serve sem querer ser servido.
Bem-aventurado aquele que trata bem os outros sem desejar ser bem tratado" (10)

Conclusão
Ao concluir queremos ressaltar duas constatações. A primeira é que a "Oração pela Paz" não é de São Francisco de Assis e, portanto, não convém que continuemos a designá-la como "Oração de São Francisco", pelo simples fato de que ela não é. A segunda é que essa oração está impregnada de espírito franciscano, tendo tudo a ver com nossa espiritualidade e carisma. Convém, pois, que a tenhamos em alto apreço, a rezemos e divulguemos, em razão de tudo o que ela é: uma oração simples e inspirada, com sabor ecumênico e de grande beleza, que nasce do coração e fala ao coração, em perfeita consonância com o Evangelho – o qual, por sua vez, "é a nossa regra". Aliás, é próprio do espírito franciscano alegrar-se reconhecendo e admirando o bem, onde quer que ele se encontre: nos irmãos, nos escritos de um pagão, ou nos costumes dos sarracenos. Aqui nos alegramos com uma oração bonita, nascida fora de nossa família, mas não fora do sopro do Espírito.
___________________________________________________________________________________________
1. K. ESSER. Gli Scritti di S. Francesco d'Assisi: nuova edizione critica. Edizioni Messaggero, Padova, 1982, 72.
2. D.VORREUX apresenta uma nota crítica em: François d'Assise. Écrits ("Sources Chrétiennes", n° 285). Introdução e notas de Th. DESBONNETS, J. F. GODET, Th. MATURA e D. VORREUX. Paris: Les Éditions du Ccrf, 1981, 403-404.
3. L. BOFF. A Oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual. Rio de Janeiro: Sextante, 1999, 16. Seguiremos de perto este livro.
4. L. IRIARTE. Vocação Franciscana. Petrópolis: Vozes, 1976, 187-188, nota 31.
5. L. BOFF, Op. cit. 17.
6. D. VORREUX . Op. cit. 403.
7. L. BOFF. 19.
8. L. BOFF, 12-13.
9. D. VORREUX . Op. cit 403.
10. Ditos do Beato Egídio, 1, em: Fontes Franciscanas e Clarianas. Petrópolis: Vozes, 2004, 1635. Cr. L. Boff, op.cit. 20-21.

Texto publicado na “Revista Franciscana”, FFB, Volume 5, 2005

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

EVANGELHO: SUBSTÂNCIA DA REGRA E VIDA DO FRADE MENOR



O que é ser Frade Menor? Ser Frade Menor é eu viver segundo a forma do Evangelho.

Eu: Uma vocação profundamente pessoal: um encontro. Mas, comunitária, isto é, entre, para, por Irmãos e universo; é como o prolongamento da vocação de Jesus Cristo.

Viver: Engajamento total de corpo e alma: não só fazer, pensar, mas viver, isto é, ser!

Segundo a forma: Forma aqui deve ser entendida no sentido medieval. Forma não é norma, não é enquadramento, delimitação, padrão, fixação. Forma é o âmago, a essência, o coração, o cerne, o suco das coisas. A forma é o ela, a dinâmica, a alma, a vida das coisas. A forma é algo como o fermento que tudo penetra para a transformação.

Viver segundo o Evangelho significa: deixar se compenetrar, se transformar, ficar possesso pelo entusiasmo da Boa-Nova, de tal maneira que a Boa-Nova se torne o conteúdo, o sentido, o gosto do meu viver: Vida Nova! O Evangelho é, pois, a forma do ser-frade-menor.

O Evangelho comporta diversas concretizações. Ou melhor, ele só existe em concretizações. Na modalidade cada vez diferente ele está todo presente em cada uma dessas concretizações. A modalidade, porém, é algo como um ocular através do qual vislumbramos o âmago do Evangelho. Em si cada pessoa, ao realizar o Evangelho, o concretiza na sua modalidade.

Ao concretizá-lo, uma pessoa pode concentrar em si de tal maneira a energética espiritual que se torne uma fonte, um foco de inspiração para muitos. As pessoas que são atingidas por essa inspiração participam da mesma modalidade da pessoa-foco. Interpretam e vivem o Evangelho através desse foco-inspirador. Assim surgem as espiritualidades. T



terça-feira, 22 de setembro de 2009

A PEDAGOGIA DE FRANCISCO DE ASSIS


Por Frei Fernando de Araújo, OFMConv




Ainda hoje, o mundo contempla os ensinamentos deixados por Francisco de Assis. A sua relação com Deus e com os homens mostra como ele entrou na dinâmica do verdadeiro encontro consigo e com outro. A partir da descoberta do profundo amor de Deus, que se manifestou de forma concreta na encarnação do verbo, Francisco começou a traçar um caminho que conduz o homem à verdade de si mesmo e do outro. Por isso, podemos falar de uma pedagogia de Francisco de Assis.

Podem-se encontrar autores que se deparam com essa pedagogia e mostram a sua atualidade para o homem pós-moderno. Um deles é Max Scheler, fundador da fenomenologia dos valores, que via em Francisco de Assis alguém que ousou realizar uma síntese dentro de um processo vital, que é a mística do amor omnimisericordioso, acósmico e pessoal. Via nele um homem que não olhava só para baixo, mas também para cima. O que Scheler afirma é que Francisco soube conviver muito bem com as realidades humanas e divinas. Francisco partiu do humano para chegar ao divino. Por isso, ele traz Deus para junto de seu povo. O Deus de Francisco é um Deus que caminha com seu povo e que quis estar junto dos seus por meio de seu Filho Jesus Cristo.

Para Scheler, ao superar os limites da criatura e do mundo, Francisco cria uma síntese de tal forma que as dimensões humana, pessoal, fraterna e religiosa e as dimensões criatural e cósmica concorrem para dar origem ao momento utópico da harmonização global. É a harmonia entre Deus, natureza e homem. Por isso, Francisco foi capaz de louvar o criador por toda a obra da criação.

Olhando a vida do santo, podemos perceber os traços de seus ensinamentos nos seguintes acontecimentos: quando procura o sultão e gera a possibilidade do dialogo; no encontro com o lobo de Gúbbio, que despertou o desejo de paz; na vivência da pobreza, que possibilitou a liberdade e que gerou no ser humano a gratuidade da qual brota o amor e o perdão; na relação com a criação, que gera a responsabilidade pela ecologia; e na acolhida da morte, como uma reconciliação global. Por tudo isso, a pedagogia do santo de Assis é tão atual e ao mesmo tempo desafiadora. A visão de Francisco foi uma visão do ser humano e a capacidade de cada criatura se relacionar com Deus e com toda sua criação.

Em seu livro Francisco de Assis: um caminho para educação, frei Orlando Bernardi, OFM, afirma que a grande revelação franciscana, ou seja, a grande pedagogia de Francisco de Assis foi perceber no leproso o caminho que conduz a Deus. Naquela cena, acontece o encontro com uma das criaturas mais temidas de seu tempo. Ao se deparar com o leproso, Francisco começa a fazer um encontro consigo mesmo, porque vendo a miséria do outro consegue perceber que também é um homem com fragilidades e debilidades. Enxerga que poderia estar naquela mesma situação. Assim, descobriu no leproso um ser humano igual a todos e digno de ser abraçado e beijado. Desse modo, o encontro com o leproso se torna uma verdadeira revolução antropológica, é uma nova descoberta do homem realizada por Francisco.

Frei Orlando, explicando o encontro de Francisco com o leproso, mostra que Francisco teve misericórdia e que manifestou o vivo amor que ardia em seu coração. Ele experimenta a misericórdia como uma força misteriosa e surpreende, que se abriga no coração humano e que transforma o amargor em doçura de corpo e alma. Além disso, ela possui a capacidade de revelar a grandeza do humano frente à mais deprimente das situações da vida.

Tudo isso aconteceu porque a maneira de agir de Francisco foi diferenciada. O que prevalecia nos seus ensinamentos era um caminho comum, onde todos tinham oportunidade de crescerem no verdadeiro seguimento de Jesus Cristo. Aqui se pode acrescentar que a fraternidade franciscana é totalmente antropológica e que tem por finalidade buscar o sentido da vida e realização humana.

É muito importante ter em mente que o caminho percorrido pelo pobre de Assis foi de profundas experiências humanas. Estas o levaram a fazer verdadeiras experiências místicas. Ele soube viver o seu tempo e também transformá-lo. Diante dos acontecimentos, ele traçou planos que visavam levar homens e mulheres a procurar alternativas para as situações mais insustentáveis, por tomarem consciência de que são pessoas amadas por Deus. Fez tudo isso, seguindo o caminho fixado no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque o livro de sua pedagogia foi o Evangelho.

Assim, pode-se perceber que toda pedagogia de Francisco está no empenhar-se com todas as forças em ser fiel a Cristo e seu Evangelho. Assim, o homem pode ser fiel e a si mesmo para conseguir manter o seu propósito desde a experiência de Jesus Cristo, pobre e crucificado. Ele também apontou caminhos que ainda hoje precisam ser observados para superar certos conflitos existentes. Deste modo acontecerá a construção do Reino de Deus. O ponto de partida é a descoberta do ser humano com toda sua grandeza, mas ao mesmo tempo com sua fragilidade. Porque foi no abraço do leproso que Francisco descobriu o ser humano em toda sua miséria e grandeza. Foi com o leproso que se manifestou a presença da fragilidade e da força que sustenta a esperança e alimenta o futuro. Uma característica da espiritualidade franciscana é perceber a presença de Deus nos pobres e todos aqueles que vivem à margem da dignidade humana.

O grande ensinamento que o poverello de Assis apresenta ao mundo moderno é a capacidade de sonhar com dias melhores e que outra sociedade é possível, baseada unicamente na pratica do amor. Ele apresentou Jesus Cristo como o formador dos sonhos e das utopias humanas, capaz de garantir a possibilidade de todos viverem em busca do verdadeiro ideal de uma fraternidade universal, que é um sonho que se pode realizar.

________

Referências Bibliográficas:

BERNARDI, Orlando. Francisco de Assis: Um Caminho Para a Educação. Editora Universitária São Francisco/IFAN: Bragança Paulista, 2002.

MERINO, J. Antônio. Humanismo Franciscano - Franciscanismo e Mundo Atual. FFB: Petrópolis, 1999.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O PERFEITO AMOR DE SÃO FRANCISCO AO CRUCIFICADO




Frei João Mannes, OFM


No dia 17 de setembro celebra-se a festa da impressão das chagas de São Francisco de Assis. Os estigmas que Francisco recebeu em 1224, no Monte Alverne, após uma visão do Cristo crucificado em forma de Serafim alado, são sinais visíveis de sua semelhança à humanidade de Cristo, nos seus três modos: na vida, na paixão e na ressurreição.

Francisco encontrou-se pela primeira vez com o Crucificado na pequena Igreja de São Damião. Num certo dia, conduzido pelo Espírito, entrou nessa Igreja e prostrou-se diante da imagem do Cristo crucificado que, movendo de forma inaudita os seus lábios, disse: “Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída” (2Cel 10,5). E, conta-nos Celano, que Francisco sentiu desde então uma inefável mudança em si mesmo, pois são impressos mais profundamente no seu coração, embora ainda não na carne, os estigmas da venerável paixão.

No entanto, foi ao ouvir o Evangelho acerca da missão dos apóstolos (Mt 10, 7-13), que Francisco compreendeu o real significado da voz do Crucificado, e imediatamente exclamou: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 8,22). Assim, sob o toque ou o apelo de uma afeição, começou devotadamente a colocar em prática o que ouvira, isto é, distribuiu aos pobres todos os seus bens materiais, bem como renegou-se a si mesmo para que, exterior e interiormente livre, pudesse ir pelo mundo e anunciar aos homens a paz, a penitência e, enfim, o amor não amado de Deus.

O amor que é Deus realizou-se na sua profundeza, largura e altitude na pessoa de Jesus Cristo. A encarnação, o estábulo, o lava-pés e a Eucaristia são expressões concretas do modo de amar como só o Deus de Jesus Cristo pode e sabe amar. Porém, foi especialmente ao entregar incondicional e gratuitamente a sua vida na Cruz, que o Filho de Deus revelou à humanidade que Deus é essencialmente caridade perfeita.

Francisco, por inspiração divina, abraçou pobre e humildemente a cruz de Jesus e deixou-se impregnar, arrebatar e transformar totalmente pelo espírito de abnegação divina. Isso quer dizer que a imitação de Cristo, por parte de Francisco, não é mera repetição mecânica dos gestos exteriores de Jesus, mas é manifestação de sua profunda sintonia com a experiência originária de Jesus Cristo: o Reino de Deus. Somente quem possui o Espírito do Senhor pode observar “com simplicidade e pureza” a Regra e o Testamento de São Francisco e realizar em si mesmo as santas operações do Senhor.

Na Terceira consideração dos sacrossantos estigmas considera-se que, aproximando-se a festa da Santa Cruz no mês de setembro, o pai Francisco, na hora do alvorecer, se pôs em oração, diante da saída de sua cela, e entre lágrimas orava desta forma: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores”(I Fioretti)). E, relata Boaventura que, enquanto Francisco rezava, “viu um Serafim que tinha seis asas (cf. Is 6,2) tão inflamadas quão esplêndidas a descer da sublimidade dos céus. E [...] apareceu entre as asas a imagem de um homem crucificado que tinha as mãos em forma de cruz e os pés estendidos e pregados na cruz. [...] Imediatamente começaram a aparecer nas mãos e nos pés dele os sinais dos cravos” (LM 13,3). Assim, Francisco transformara-se todo na semelhança de Cristo crucificado (cf LM 13,5). Pois, de fato, trazia Jesus no coração, na boca, nos ouvidos, nos olhos, nas mãos, nos sentimentos e em todos os demais membros (cf. I Cel 9,115), e conseqüentemente podia exclamar com o apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

O Pobre de Assis, no seguimento de Jesus Cristo, perdeu a sua própria vida, mas recuperou-a inteiramente em Deus, de acordo com a palavra do Evangelho: “Quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 12,25). Todavia, Francisco não somente reencontrou a si mesmo em Deus, como filho de Deus, mas a todos os seres do universo. O Cântico das Criaturas, que compôs pouco antes de sua morte corporal, é expressão jubilosa dessa intensa experiência eco-espiritual: “Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas”.

O pai Francisco tornou-se assim um mestre na sequella Iesu. De imediato despertou o fascínio de muitas pessoas e atraiu muitos discípulos e discípulas, entre as quais, Santa Clara. Clara e suas Irmãs, a exemplo de Francisco, também querem chegar ao cimo da montanha da perfeição do amor. A propósito subscrevemos parte do VII capítulo (Do perfeito amor de Deus) de um interessantíssimo opúsculo que Boaventura escreveu à abadessa das Irmãs, do convento de Assis, sobre A perfeição da vida:

“Não é possível excogitar um meio mais apto e mais fácil para mortificar os vícios, para progredir na graça, para atingir o auge de todas as virtudes do que a caridade. Por isso diz Próspero, no seu livro Sobre a vida Contemplativa: “A caridade é a vida das virtudes e a morte dos vícios”. Como a cera se derrete diante do fogo, assim os vícios perecem diante da caridade. Porque a caridade possui tanto poder que só ela fecha o inferno, só ela abre o céu, só ela dá a esperança da salvação, só ela nos torna dignos do amor de Deus. Tal poder possui a caridade que entre todas as virtudes só ela é chamada propriamente virtude. Quem a possui é rico, tem abundância, é feliz. [...] E diz Santo Agostinho: “Se a virtude conduz a uma vida bem-aventurada, eu quisera afirmar em absoluto que nada é propriamente virtude senão o sumo amor de Deus”. Sendo, por conseguinte, o amor de Deus uma virtude tão elevada, cumpre insistir em alcançá-lo acima de todas as demais virtudes; porém, não um amor qualquer, mas só aquele com que Deus é amado sobre todas as coisas e o próximo por amor de Deus.

O modo de amar a teu Criador ensina-o o teu esposo no evangelho: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Repara bem, caríssima serva de Jesus Cristo, que amor o teu dileto esposo exige de ti. Quer o teu amado que ao seu amor dediques todo o teu coração, toda a tua alma, todo o teu espírito, de sorte que absolutamente ninguém em todo o teu coração, em toda a tua alma, em todo o teu espírito, tenha parte com ele. Que, pois, fará para amares o Senhor teu Deus realmente de todo o coração? Que quer dizer: de todo o coração? Vê como São João Crisóstomo ensina: “Amar a Deus de todo o coração significa não estar o teu coração inclinado a nenhuma outra coisa mais do que ao amor de Deus; não te comprazeres nas coisas desse mundo mais do que em Deus, nem nas honras, nem mesmo nos pais. Se, todavia, o teu coração se ocupar em alguma destas coisas, já não o amas de todo o coração”. Peço-te, serva de Cristo, não te iludas. Fica sabendo que, se amas alguma coisa, e não a amas em Deus e por Deus, já não o amas de todo o coração. Por isso diz Santo Agostinho: “Senhor, menos te ama quem ama alguma coisa contigo”. Se amas alguma coisa que não te faz progredir no amor de Deus, não o amas de todo coração. E se, por amor de alguma coisa, negligencias aquilo que deves a Cristo, já não o amas de todo o coração. Ama, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração.

Não somente de todo o coração, mas também de toda a alma devemos amar a Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor. Que significa: de toda a alma? Vai dizê-lo Santo Agostinho: “Amar a Deus de toda a alma é amá-lo com toda a vontade, sem restrições”. Amarás, certamente, de toda a alma, se sem contradição e de boa vontade fizeres não o que tu queres, nem o que aconselha o mundo, nem o que te inspira a carne, mas aquilo que reconheceres como sendo a vontade de Deus. Amarás, de fato, a Deus de toda a tua alma quando por amor de Jesus Cristo entregares de boa vontade tua vida à morte, sendo necessário. Se nisto, porém, faltares, já não amas de toda a alma. Ama, pois, ao Senhor teu Deus de toda a tua alma, isto é, faze a tua vontade sempre em conformidade com a vontade divina.

Entretanto, não só de todo o coração, não só de toda a alma, deves amar o teu esposo, Jesus Cristo. Ama-o também de todo o teu espírito. Que quer dizer: de todo o teu espírito? Di-lo novamente Santo Agostinho: “Amar a Deus de todo o espírito, é amá-lo com toda a memória, sem esquecimento”. (in: Obras Escolhidas. Porto Alegre: EST, 1983, p. 433-435).

FONTE: http://www.franciscanos.org.br/v3/carisma/especiais/2009/chagas_2009/mannes.php

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


Amanhã, festa das Chagas de São Francisco de Assis

Segundo as Fontes Franciscanas, de 15 de agosto a 29 de setembro, Francisco, com Frei Leão e Frei Rufino, esteve no Monte Alverne se preparando com uma quaresma de oração e jejum para a festa de São Miguel Arcanjo. No dia 17 de setembro, tem a visão do Serafim alado e recebe os estigmas.

O TESTEMUNHO DAS FONTES FRANCISCANAS
Dos "Fioretti" - Terceira consideração dos Sacrossantos Estigmas
"Um dia, no princípio de sua conversão, ele rezava na solidão e, arrebatado por seu fervor, estava totalmente absorto em Deus e lhe apareceu o Cristo Crucificado. Com esta visão, sua alma se comoveu e a lembrança da Paixão de Cristo penetrou nele tão profundamente que, a partir deste momento, era-lhe quase impossível reprimir o pranto e suspiros quando começava a pensar no Crucificado".E rezava:
"Ó Senhor, meu Jesus Cristo, duas graças eu te peço que me faças, antes de eu morrer: a primeira é que, em vida, eu sinta na alma e no corpo, tanto quanto possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua dolorosa Paixão.A segunda, é que eu sinta, no meu coração, tanto quanto for possível, aquele excessivo amor, do qual tu, filho de Deus, estavas inflamado, para voluntariamente suportar uma tal Paixão por nós pecadores".
Da Legenda Menor de São Boaventura, Capítulo 6
"Francisco era um fiel servidor de Cristo. Dois anos antes de sua morte, havendo iniciado um retiro de Quaresma em honra de São Miguel num monte muito alto chamado Alverne, sentiu com maior abundância do que nunca a suavidade da contemplação celeste. Transportado até Deus num fogo de amor seráfico, e transformado por uma profunda compaixão n'Aquele que, em seus extremos de amor, quis ser crucificado, orava certa manhã numa das partes do monte.Aproximava-se a festa da Exaltação da Santa Cruz, quando ele viu descer do alto do céu, um serafim de seis asas flamejantes, o qual, num rápido vôo, chegou perto do lugar onde estava o homem de Deus. O personagem apareceu-lhe não apenas munido de asas, mas também crucificado, mãos e pés estendidos e atados a uma cruz. Duas asas elevaram-se por cima de sua cabeça, duas outras estavam abertas para o vôo, e as duas últimas cobriam-lhe o corpo.Tal aparição deixou Francisco mergulhado num profundo êxtase, enquanto em sua alma se mesclavam a tristeza e a alegria: uma alegria transbordante ao contemplar a Cristo que se lhe manifestava de uma maneira tão milagrosa e familiar, mas ao mesmo tempo uma dor imensa, pois a visão da cruz transpassava sua alma como uma espada de dor e de compaixão.Aquele que assim externamente aparecia o iluminava também internamente. Francisco compreendeu então que os sofrimentos da paixão de modo algum podem atingir um serafim que é um espírito imortal. Mas essa visão lhe fora concedida para lhe ensinar que não era o martírio do corpo, mas o amor a incendiar sua alma que deveria transformá-lo, tornando-o semelhante a Jesus crucificado.Após uma conversação familiar, que nunca foi revelada aos outros, desapareceu aquela visão, deixando-lhe o coração inflamado de um ardor seráfico e imprimindo-lhe na carne a semelhança externa com o Crucificado, como a marca de um sinete deixado na cera que o calor do fogo faz derreter.Logo começaram a aparecer em suas mãos e pés as marcas dos cravos. Via-se a cabeça desses cravos na palma da mão e no dorso dos pés; a ponta saía do outro lado. O lado direito estava marcado com uma chaga vermelha, feita por lança; da ferida corria abundante sangue. Frequentemente, molhando as roupas internas e a túnica. Fui informado disso por pessoas que viram os estigmas com os próprios olhos.Os irmãos encarregados de lavar suas roupas, constataram com toda segurança que o servo de Deus trazia, em seu lado bem como nas mãos e pés, a marca real de sua semelhança com o Crucificado".

sábado, 12 de setembro de 2009


Entrevista com Frei Haroldo Pimentel de Miranda Junior, OFM
Por Frei Gustavo Medella, OFM
Pouco mais de um ano depois de concluir os estudos de Teologia no ITF, Frei Haroldo Pimentel de Miranda Junior, OFM, voltou a Petrópolis com intuito de terminar seu trabalho de final de curso, que havia ficado pendente. Quando chegou ao Instituto para dar início a esta última etapa de sua vida acadêmica, foi surpreendido pelo convite do diretor do ITF, Frei Sandro Roberto da Costa, OFM, para que também fizesse parte da primeira turma do Master em Evangelização e Missão. Frei Haroldo pensou um pouco e resolveu aceitar o desafio. Convites inesperados, aliás, fazem parte da história desse paraense de Santarém, nascido no dia 02 de agosto de 1979, em uma família de seis filhos. Seu engajamento na Igreja também ocorreu a partir de uma provocação repentina de uma senhora que lhe convidou a fazer parte de um grupo de CEB’s na Paróquia Cristo Libertador, onde iniciou sua caminhada eclesial. Desde lá, Frei Haroldo veio recebendo uma série de chamados, sempre respondendo com positividade, como ao ingressar no postulantado franciscano, em 1998, ao emitir os votos solenes, em 2004, e ao receber a ordenação presbiteral em 2008. Nesta entrevista, Frei Haroldo conta um pouco sobre sua caminhada vocacional e também fala da experiência desta segunda fase em Petrópolis, para a participação no Master em Evangelização.
Site do ITF - Conte um pouco da história de sua vocação.
Frei Haroldo – Tudo começou com um convite de uma senhora para participar de um grupo de Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s). Nesta época estava morando com meu pai, pois meus pais são separados. Eu morei até os 13 anos com minha mãe e, quando completei 14 anos, minha mão foi trabalhar e nos encaminhou para morarmos com meu pai. Então uma vizinha dele me convidou para participar de um grupo de CEB’s e eu fui. Na época cheguei a ficar um pouco constrangido, pois era o único homem do grupo, formado basicamente por senhoras. Os encontros eram sempre nas tardes de sábado, o que virou uma rotina para mim. Com o passar do tempo, tornei-me catequista do grupo de perseverança e, mais tarde, iniciamos um grupo de jovem na paróquia (Paróquia Cristo Libertador, em Santarém-PA, atendida pelos frades franciscanos). Com o engajamento pastoral na paróquia, fui aconselhado a ingressar também no grupo vocacional e mais uma vez aceitei o desafio. Nessa época minha vida era em função da igreja. Estava sempre às voltas com reuniões, encontros, celebrações, etc. Então, ao final de três anos de caminhada no grupo vocacional, cheguei à conclusão de que queria ser frade, pois eu via todo trabalho e o exemplo dos frades que trabalhavam na paróquia. Também li uma biografia de São Francisco que me deixou encantado e pensei: “É isso mesmo que eu quero!”, e entrei no postulantado franciscano em 1998.
Site do ITF - Como foi a reação da família diante de sua decisão? Era algo já esperado?
Frei Haroldo – Minha família nunca teve um engajamento na Igreja. Nem meu pai nem minha mãe têm o costume de frequentar a Igreja. Vão de vez em quando à missa, mas não participam de nenhum grupo. Em especial com relação a meu pai, a reação foi um pouco negativa porque, às vésperas de entrar no postulantado, eu prestei o vestibular para o curso de Pedagogia na Universidade Federal do Pará, para a qual era muito difícil passar. Fiz a prova sem esperança, mas fui surpreendido com minha aprovação. Meu pai ficou muito feliz e mandou que eu fizesse todos os procedimentos de matrícula, e eu fiz. Aí fiquei dividido, pois era no mesmo ano em que eu iria entrar no postulantado. Passei por um período de discernimento. Conversei com várias pessoas e o coração acabou falando mais alto. Estava muito animado a ser frade e decidi ingressar na Vida Religiosa Franciscana. Meu pai ficou um pouco triste, mas passou, e hoje ele compreende normalmente.
Site do ITF - Você concluiu os estudos de Teologia no ITF em 2007. Qual foi seu primeiro serviço logo depois de deixar Petrópolis?
Frei Haroldo – Como nós somos poucos em nossa Custódia (Custódia Franciscana de São Benedito, na Amazônia), quando um frade conclui a formação, cria-se grande expectativa, pois os trabalhos são muitos. Era época de capítulo intermediário e então os frades decidiram me designar para o serviço de promoção vocacional. Cheguei a iniciar um trabalho de visita às fraternidades e de acompanhamento de vocacionados, mas em meados de maio, nosso Custódio, Frei João Schwiters, perguntou a mim se eu teria disponibilidade para trabalhar em Jacareacanga, PA, na missão junto aos índios Munduruku, e eu me coloquei à disposição. Fiquei praticamente sozinho por um período de três meses. Ao final desta primeira experiência, chegou um outro frade para compor a fraternidade da missão. Fiquei até o final do ano nesta missão, visitando as aldeias, em um trabalho com forte tendência sacramental. Na minha opinião, nosso trabalho deveria estar mais voltado para a vida dos índios, a convivência, o engajamento nas lutas, mas há 100 anos temos esta estrutura mais sacramentalizada.
Site do ITF - Já no fim de seus estudos no curso Master em Evangelização, confrontando as informações que você recebeu com a realidade que você viveu lá na missão entre os índios, que possibilidades de mudança no foco pastoral para este serviço você consegue identificar?
Frei Haroldo – Para além do trabalho sacramental, vejo a necessidade de se realizar um trabalho que enfoque mais a luta pelo direito dos índios, a defesa das terras indígenas e também a defesa da natureza. Para que este trabalho se realize, é necessário que também os frades sejam mais flexíveis e mais abertos à missão e à experiência de convívio com os indígenas, sem grandes preocupações em levar uma estrutura já pronta e acabada.Site do ITF - E que lembrança você leva deste segundo período em Petrópolis?Frei Haroldo – É interessante que eu nem sabia deste curso. Meu plano era vir a Petrópolis neste ano para concluir minha monografia da Graduação em Teologia, que havia ficado pendente, mas quando cheguei aqui, o Frei Sandro Roberto da Costa (diretor do ITF) me propôs que eu fizesse também o curso Master e me convenceu. Entrei em contato com os frades da minha entidade e eles me autorizaram. De tudo que vivi neste período, nunca mais vou me esquecer desta convivência com confrades de diferentes países da América Latina e também de várias regiões do Brasil, pois este contato traz muita riqueza para o curso. Também é muito importante esta oportunidade de reflexão sobre a atividade de Evangelização, especialmente para quem está na ação pastoral há mais tempo, o que ainda não era o meu caso. Mas mesmo assim foi muito boa esta oportunidade de mais uma vez rever nossas práticas de evangelização. Por exemplo, no caso da missão com os indígenas, já está claro que não podemos repetir o modelo adotado no período da colonização. Temos que buscar um novo modo de convivência, pautado mais no aprendizado mútuo do que na imposição. O curso nos propicia este alargamento de horizonte para que possamos rever nossas práticas e agir de maneira diferente.


Formação Franciscana na Ordem dos Frades Menores, compreende várias etapas. Ela começa com os jovens que desejam viver esta forma de vida. (Querem ser frades). Este tempo inicial depende do interesse dos jovens e da Equipe Vocacional, para poderem ingressar. A entrada destes deve estar de acordo com critérios básico que foram estipulados pela Ordem Franciscana. O jovem deve possuir ensino médio, ter mais de 18 anos (ou pelo menos completar 18 anos no aspirantado), e como requisito necessário: ser católico, batizado, crismado.
Este primeiro contato se dá dentro da pastoral vocacional. Existe um promotor Custodial e outros frades que compõe a equipe. Cada frade fica responsável por um grupo de jovens. Dependendo da região ou outros critérios estabelecidos pela mesma Pastoral Vocacional. Entretanto, cada frade da comunidade religiosa Custodial é um promotor. O que diferencia é que este encaminha a Equipe Vocacional para fazer o acompanhamento oficial, todavia o frade da fraternidade local faz o papel de promotor acompanhado e orientando para o discernimento do jovem.
O mínimo de tempo de acompanhamento nos encontros vocacionais é de um ano. Os frades mostram ao jovem um pouco da espiritualidade franciscana e como é a vida dos frades, possibilitando um discernimento maior. A intenção é levar o jovem a um amadurecimento para dar uma resposta ao fim do período. Muitos jovens começam o processo e entendem melhor que se sente chamado à outra vida, seja em outro instituto ou em outra vocação, como o casamento. Outro confirmam seu desejo e pedem para entrar. Logo, é natural e oportuno que o jovem que tenha duvidas faça a experiência e conheça melhor a vida dos frades, para que sinta no futuro mais livre em sua escolha vocacional.
Outros jovens ficam durante um período maior de tempo no processo de discernimento. Seja devido ao estudo insuficiente, a idade ou por achar que precisa de mais tempo. Todo este caminho é possível neste primeiro momento. Algumas pessoas pensam que os jovens “têm fogo de palha”, pois fazem os encontros e desistem. Mas sabemos que pelo contrário, pode ter sido um momento propício para que percebesse qual caminho tomar. Assim, é sadio ir conhecer e ver que não era aquilo que queria. No futuro esta pessoa poderá desempenhar tranquilamente seu ministério na comunidade. Seja como uma pessoa engajada nos movimentos pastorais da igreja ou nos trabalhos humanitários em geral.
Os jovens interessados devem procurar a Pastoral Vocacional dos Frades Menores
.

Onde estão os Franciscanos na Amazônia ?
SANTARÉM
FRATERNIDADE SÃO FRANCISCO—SEDE CUSTODIAL
AV: São Sebastião, 517 – Santa Clara – Centro.
Cx Postal: 191 CEP: 689100-970—Santarém – Pará

FRATERNIDADE POSTULANTADO MAÍRA
Rodovia Santarém – Cuiabá, Km 3, s/n - Esperança Cx Postal 191 CEP:68100 – 970 Santarém – Pará

FRATERNIDADE NOVICIADO KABIARÁ
Rua: Municipalista, 458 – Mararu Cx Postal 191
CEP: 68100 – 970— Santarém – Pará

BELÉM
FRATERNIDADE SANTO ANTÔNIO DE LISBOA
Rua: DOS Tamoios, 1875
PÇ Batista Campos (66025-540) Cx Postal 660
CEP: 66017-970— Belém – Pará

BOA VISTA—RORAIMA
FRATERNIDADE IRMÃO FRANCISCO IRMÃ CLARA
Rua: Sião, 314 – Pintolândia Cx Postal 21—
CEP: 69301-970 - Boa Vista – RR

ITAITUBA- PARÁ
FRATERNIDADE SANT’ANA
Tv: 15 de agosto, 76 Cx Postal: 171
CEP: 68181-970—Itaituba – Pará

MANAUS—AMAZONAS
FRATERNIDADE SÃO BOAVENTURA
Rua:Osvaldo Goés, 1561— Cx Postal:149—Sto Antônio
CEP: 69029-220—Manaus – AM

MONTE ALEGRE—PARÁ
FRATERNIDADE SÃO FRANCISCO DE MONTE ALEGRE
Praça Fernando Guilhon, 148
Caixa Postal 01 CEP: 68220-000
Monte Alegre – Pará

FRATERNIDADE PAIN HUGO (MISSÃO CURURU E JACAREANGA)
Rua Bernardo da Silva, s/n
68195-000
Jacareacanga – Pará

ÓBIDOS
FRATERNIDADE SANT’ANA
Rua: Eloy /, 762—cx Postal: 21 CEP: 68050-000
Óbidos— Pará


SEJA UM FRADE FRANCISCANO!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

QUEM FOI DOM FREI AMANDO BALHMANN, OFM (1862-1939)


Nasceu a 08 de maio de 1862, em Bartmansholte, paróquia de Essen, na Alemanha, e era o segundo filho de um honesto e simples professor primário, com fez os seus primeiros estudos, passando depois para Vechta, onde fez os estudos ginasiais. Entrou, em seguida, como noviço na Ordem Franciscana, em Harreveld, onde recebeu o hábito a 21 de agosto de 1879, tendo sido seu Mestre de Noviços o experimentado Padre Osmundo. A 24 de agosto de 1880 fez a Profissão Simples, e a 03 de outubro de 1883 a Profissão Solene. Em Bleyerheide, onde terminou os seus estudos ginasiais, ingressou em Filosofia, seguindo, em 1884, com outros alunos, para Roma, onde freqüentou o Colégio da Propaganda. Aí concluiu os seus estudos com o honroso diploma de Doutor em Filosofia e em Teologia, em 1889, já ordenado Sacerdote, pois a sua ordenação se deu em Roma, na Basílica de Latrão, a 22 de Setembro de 1888.

Regressando à Alemanha, foi enviado para Werl, como professor de Filosofia, mas, desejoso de ser missionário, apresentou-se como candidato para as Missões no Brasil, onde se pretendia restaurar as Províncias Franciscanas.

Efetivamente, a 24 de maio de 1891 embarcou em Bremen para o Brasil, em companhia de mais um padre e dois irmãos leigos, indo estabelecer-se na cidade de Desterro, atual Florianópolis, por onde se começou essa restauração. Em dezembro de 1892 veio para a Bahia com os antigos e novos padres. Tratou-se da restauração da antiga Província de Santo Antônio, do norte do Brasil, tendo sido Frei Amando Bahlmann nomeado Superior, Professor e Mestre de Noviços, ainda lhe sobrando tempo para ser excelente pregador de Missões.

Em 1905 foi nomeado Visitador das Províncias de Argentina e Bolívia, cargo de que muito bem se desempenhou, de tal modo que, ao regressar, passando por Buenos Aires, recebeu a notícia da sua nomeação, 18 de janeiro de 1907, para Prelado de Santarém, de que tomou posse canônica a 04 de agosto do mesmo ano, um dia depois de sua chegada à sede de sua Prelazia. Vieram com ele Frei Capistrano e Frei Camilo, um sacerdote e o outro irmão leigo. Logo em 1908 foi a Roma, onde foi sagrado Bispo Titular de Argos. Regressou depois a Santarém, a sede querida da sua Prelazia, e desde então a vida de Dom Amando não teve outra finalidade senão o desenvolvimento onímodo desta parte da Igreja que a Santa Sé lhe confiara. Morreu em Nápoles, a 05 de março de 1939, poucos dias depois da eleição do Papa Pio XII, assistido pó um confrade religioso a quem ele mesmo havia ordenado dezesseis anos atrás, o Revmo. Padre Crisóstomo Streemer.



A 06 de março foi celebrada Missa de corpo presente na Igreja de Santa Maria la Nueva, em Nápoles, sendo celebrante o Revmo. Padre Definidor Geral Bertrand Kurtscheid, assistido pelos Padres Xavier Boockey e Pancrácio Puetter.

O seu sepultamento realizou-se também em Nápoles, no cemitério franciscano da Província de Santa Maria la Nueva, até que, em abril de 1952, no dia 10, pelo "Cantuária", do Lóide Brasileiro, entravam em Santarém os seus restos mortais, recebido pelo povo com verdadeira apoteose, e com apoteose ainda maior no sepultamento em jazigo perpétuo na Matriz de Santarém, no dia 14 de abril de 1952, na Capela do Senhor dos Passos, onde uma lápide singela assinala o nome querido do maior de todos os benfeitores de Santarém.



terça-feira, 8 de setembro de 2009


"SOU ARAUTO DO GRANDE REI..."
(1B 2,5)

A partir do Encontro com o Crucificado, do rompimento dos laços sangüíneos, nasce um homem novo. Tem-se, portanto, uma nova identidade. Agora Francisco é um anunciador, um cantador, um trovador, um cavaleiro de elite do Grande Rei.
Deste momento em diante, todo o fazer de Francisco será um concrescimento na vontade de Deus. Todos os seus serviços, seja como forem, onde forem, entre quem forem, terão o toque originário de Deus, que convocará a todos a também serem outros arautos do Grande Rei.

Quem quer que lhe pergunte quem é, Francisco terá sua identidade definida: não mais 'filho de Pedro de Bernardone', mas 'um arauto do Grande Rei'. Esta resposta remonta ao sentido de cavaleiro. Percebemos que Francisco não abandona o seu ideal primeiro mas, como um bom comerciante que era, negocia e TROCA O BEM TIDO PELO CONQUISTADO, em serviço ao Senhor Crucificado.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

SANTA CLARA DE ASSIS

“Escuta, filha, vê e presta atenção,Esquece o teu povo e a casa de teu pai.De tua Beleza se encantará o rei;Ele é teu Senhor, inclina-te diante dele!”(Salmo 44)

Chiara Favarone di Offreduccio nasceu a 16 de julho de 1194, em Assis. Seu nome, dado pela mãe, é a sua carteira de identidade: “Clara de nome, mais clara por sua vida e claríssima nas virtudes” (1Cel 8 ). Esta é a nossa Clara de Assis, Santa Clara, Mãe e Irmã, sopro do Espírito, luz para os que buscam as trilhas do sagrado e a plenitude do humano! Santa Clara morreu aos 11 de Agosto de 1253, no Convento de São Damião, aos sessenta anos, apertando nas mãos e no coração a Regra de Vida aprovada por Inocêncio IV, seu sonho, vocação e realização.
Aos dezoito anos, no dia 19 de Março de 1212, junta-se a Francisco de Assis, na Igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula e, a partir dali, Assis e o mundo ganham um modo fascinante e próprio de encarnar o Evangelho. A gentil dama assisiense diz adeus aos projetos da família biológica, às ofertas do mundo, à sua beleza e aos dotes matrimoniais, à riqueza, ao palácio, castelo e nobreza, à presença na sociedade de Assis, e vai, com sensibilidade e coragem indomável, seguir os caminhos do Senhor numa nova família espiritual. Esta escolha juvenil teve as marcas da fidelidade por quarenta anos.
Na sua adolescência e juventude, antes de seguir radicalmente o Evangelho e o jeito de Francisco, Clara já acolhia, atendia, cuidava e nutria enfermos, pobres e leprosos. Distribuía sorrisos, presença, sopa, ataduras e aquele modo feminino de aliviar as misérias de então. Uma mulher como ela, destinada às cortes e aos príncipes, que encontra tempo para os que estão fora do status e da riqueza, só pode inaugurar um virtuoso caminho que leva à santidade.
Esta mulher bela, inteligente, amável, segura, piedosa e admirada, constrói no jeito natural de sua juventude, a grande fundadora da Segunda Ordem, as Damas Pobres, as Reclusas de São Damião, as Damianitas, enfim as Clarissas. Quem tem uma vida concreta arrasta atrás de si seguidoras: Inês e Beatriz, suas irmãs de sangue, sua mãe Ortolana, cinqüenta Irmãs naquele primeiro Mosteiro de Assis e tantíssimas Irmãs Clarissas espalhadas pelo mundo. Quem são as Clarissas? Vamos buscar a resposta nas Fontes primitivas:
O biógrafo medieval, Tomás de Celano, assim diz: “Este é aquele feliz e santo lugar em que, decorrido já o espaço de quase seis anos da conversão do bem-aventurado Francisco, teve feliz início, por intermédio do mesmo homem bem-aventurado, a gloriosa Religião e excelentíssima Ordem das Damas Pobres e virgens santas; neste lugar, viveu a Senhora Clara, oriunda da cidade de Assis, pedra preciosa e fortíssima, fundamento de outras pedras sobrepostas.(...) Ela foi posta como proveito para muitas e, como exemplo, para inúmeras. Nobre pela estirpe, mais nobre pela graça; virgem no corpo, castíssima no espírito; jovem na idade, mas madura no espírito; firme no propósito e ardentíssima no desejo do amor divino; dotada de sabedoria e de especial humildade.(...) Sobre ela ergueu-se a nobre estrutura de preciosíssimas pérolas, cujo louvor provém não dos homens, mas de Deus (Rm2,29), visto que nem a limitada faculdade de pensar é capaz de meditá-la, nem a concisa linguagem é capaz de explicá-la. Pois, antes de tudo, vigora entre elas a especial virtude da mútua e contínua caridade que de tal forma une as vontades delas que, morando juntas quarenta ou cinquenta no mesmo lugar, o mesmo querer e o mesmo não querer fizeram nelas de diversos um único espírito. Em segundo lugar, em cada uma brilha a gema da humildade que de tal modo conserva os dons concedidos e os bens recebidos dos céus que merecem as demais virtudes. Em terceiro lugar, o lírio da virgindade e da castidade de tal maneira asperge todas com admirável odor que, esquecidas dos pensamentos terrenos, elas desejam meditar unicamente os celestes, e de fragrância dele nasce tão grande amor para com o Esposo eterno nos corações delas que a integridade deste sagrado afeto exclui delas todo costume da vida anterior. Em quarto lugar, todas foram marcadas pelo título da altíssima pobreza a ponto de mal ou nunca consentirem em satisfazer a extrema necessidade do alimento e da veste” (1Cel 8, 18-19).
Juntemos a esta precisa descrição de Celano a verdade de que Clara e suas filhas tem a coragem de centrar toda a energia do amor no Único Esposo, um amor incondicional, um amor de intimidade; que encontram na oração e na contemplação os canais mais convergentes para o Divino; na quietude e na solicitude, na fraternidade e na atividade, na minoridade e na benignidade, a tarefa de amar e servir.
Clara e Irmãs Clarissas, tronco da mesma raiz, flores femininas da mesma planta; missionárias da prece, comunhão eclesial, guardiãs do melhor que o Carisma tem: revelação, inspiração, reconstrução. Elas cuidam do manancial de onde brota a nossa vida evangélica franciscana, água viva com sabor clariano, que não podemos deixar de beber. Na Festa de Santa Clara vamos pedir a bênção para a Mãe!

Por Frei Vitório Mazzuco, OFM

Fonte:http://www.franciscanos.org.br/v3/carisma/especiais/2009/santaclara/09.php

sábado, 8 de agosto de 2009



O Rio São Francisco: acqua mater
Dom frei Luiz Flávio Cappio (*)

Antes de viajar para a Alemanha para receber o Título de Cidadão do Mundo(2), dia 5 de maio de 2009, na PUC Minas, em Belo Horizonte, MG, na abertura do III Simpósio Internacional de Teologia e Ciências da Religião, Dom Cappio, o bispo que já fez duas greves de fome contra a Transposição de águas do Rio São Francisco e pela defesa do Rio São Francisco e do seu Povo, nosso querido frei Luz proferiu a seguinte conferência:

Que mundo deixaremos para nossos filhos, netos? Que planeta estamos preparando para as futuras gerações?É uma questão elementar de justiça. O sagrado direito que cada um de nós possui de poder viver em um ambiente sadio, digno de seres humanos, propício à vida com qualidade para cidadãos e cidadãs deste planeta, corresponde ao igual dever que nos compete de propiciar estes mesmos direitos às futuras gerações. Herdamos um mundo, um planeta que nos foi legado por aqueles que vieram antes de nós, que prepararam a casa onde hoje moramos, onde vivemos, onde realizamos nossa existência.Cabe-nos fazer o mesmo para aqueles e aquelas que virão depois de nós, que herdarão o planeta que tivermos preparado para eles. Isso e uma questão de justiça.
Amanhã, quando o sol nascer de novo com seu calor e vida; As flores nos acolherem com suas variadas cores e perfumes; Ouvirmos o canto dos pássaros e a brisa fresca beijando nosso peito; Nossos lábios sorverem as águas puras da fonte enquanto contemplamos as verdes altas montanhas e o azul profundo dos oceanos;Poderemos ouvir dos que virão depois de nós: "Obrigado pelo mundo que vocês prepararam para nós. Obrigado pelo planeta, qual jardim, que vocês nos legaram. Obrigado pelas sementes de vida que vocês plantaram para que pudéssemos colher seus abundantes frutos. Obrigado, muito obrigado."Ou, depois de amanhã, quando não mais houver amanhecer, mas apenas uma claridade enfumaçada, coberta por nuvens ácidas;Quando nossa visão enfraquecida e nossos corpos se esvair em feridas purulentas provocadas pela radiação tóxica causada pelo enfraquecimento da camada de ozônio; Quando, em vez de água, tivermos que beber um suco pastoso de coliformes fecais temperado com ingredientes químicos das mais nocivas origens;Quando a paisagem se tornar um imenso deserto sem vida, sem a canção dos pássaros, sem a melodia de vozes humanas, porque ninguém mais terá ânimo para cantar e sim para gritar desesperadamente pelas dores lancinantes de ossos e músculos em decomposição;E as mães, por amor, tiverem que abortar os filhos para que não sejam mais sofredores condenados a esse vale de lágrimas;Ouviremos nossos filhos e netos, com dedo em riste apontando para nós, olhos esbugalhados, roendo palavras desconexas de ódio e rancor, gritarem: "Malditos, demônios, filhos das trevas e do mal, olhem para esse inferno para o qual fomos condenados. Vocês são os responsáveis pela desgraça que nos envolve, fazendo-nos desgraçados com elas."Que mundo, que planeta legaremos para nossos filhos e netos? Isso é uma questão de justiça. Poderemos ser justos cumprindo nosso sagrado dever de zelar e cuidar dessa riqueza infinitaque nos foi confiada, ou podemos ser profundamente injustos assumindo a postura irresponsável e inconsequente dos que apenas exploram e usufruem do tesouro de incomensurável valor que é a natureza, mãe da vida.“Deus perdoa sempre, os seres humanos, de vez em quando, a natureza não perdoa nunca”. Se nós a agredirmos, mais cedo ou mais tarde ela dará sua resposta. A vida que hoje vivemos herdamos de nossos ancestrais. Nós estamos construindo o Planeta em que os que virão depois de nós nele viverão. A vida não se improvisa. Em cinco minutos colocamos no chão uma árvore centenária. Serão necessários mais cem anos para que tenhamos outra semelhante. Isso se tivermos o cuidado de plantar outra e cuidar, cuidar e cuidar.

fonte: http://www.franciscanos.org.br/ecologia/agua/artigos2009/19.php

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Quem são os Franciscanos?

Os Franciscanos são pessoas que fizeram uma opção: a de deixar que Deus realize em sua vida o seu plano de amor, e busca viver o Evangelho como Francisco viveu.
A vida Religiosa Franciscana caracteriza-se por alguns aspectos particulares:

A vida de Fraternidade

· Frater vem do latim e significa irmão. O frade é aquele que busca viver em comunidade, formando uma família, sendo irmão de todos. Francisco viveu uma intensa relação de fraternidade com Cristo, o que fez dele um dom para os seus irmãos. E ele recomenda aos frades: "E sejam irmãos entre si".

A vida de Pobreza

· Francisco deixou tudo, riquezas, prestígios e até a própria família para seguir Jesus Cristo pobre. O Franciscano caracteriza-se pela sua doação total a Deus, desfazendo-se de tudo aquilo que possa distanciá-lo do seu Senhor. Sem nada de próprio, o frade é aquele que só tem uma tarefa: ser dom gratuito de Deus aos irmãos.

A vida de Obediência

· Deixando tudo, Francisco só quis saber de uma coisa: cumprir a vontade de Deus. E isto se deu imitando Cristo obediente. O frade Franciscano é aquele que renúncia todas as vontades pessoais, todos os teus quereres, e passa a querer somente uma única coisa: fazer a vontade de Deus. E este Deus é visto na pessoa dos seus superiores (ao papa, ao geral da ordem, ao seu ministro provincial e a seu guardião).

A vida de Castidade

· São Francisco renunciou todas as paixões deste mundo para viver somente para uma paixão: Jesus Cristo. O Franciscano renuncia as paixões humanas para que, imitando Jesus Cristo, ele esteja inteiramente a serviço de seu Reino.


A vida de Minoridade

· Francisco quis viver entre os pobres, por isso se fez menor. O Franciscano é aquele que quer ser como Francisco, um menor entre os menores. Através de suas atitudes, o frade busca ser pequeno. O Frade Menor é um homem que procura estar junto aos menores e pobres e compromete-se com eles e com a promoção da justiça social.


A Vida de Oração

· São Francisco buscou viver uma intensa experiência de oração. Estava sempre em diálogo com Deus. O Frade Franciscano é aquele que procura estar sempre em comunhão e em diálogo com Deus contemplando as coisas do alto e tendo uma profunda vivência de oração.


Quem entra na vida Religiosa Franciscana não tem como objetivo primeiro ser sacerdote, ser padre. Tem, em primeiro lugar, a vontade de ser franciscano, de ser irmão, de ser frade. O ideal de vida dos Franciscanos é o mesmo para todos: seguir Jesus Cristo a modo de Francisco de Assis. O que todos tem de comum é a consagração religiosa, de serviço a Deus e aos irmãos. Por isso, dentro da fraternidade não dever haver discriminação se este é padre e aquele irmão, pois antes de ser padre o franciscano tem como primeiro objetivo e compromisso ser irmão. Eles devem se ajudar mutuamente, animando-se nas dificuldades e convivendo fraternalmente. O Franciscano, no serviço à Igreja e as comunidades cristãs, prestam diferentes formas de serviços: trabalhando com o povo, catequizando, assistindo aos doentes, em movimentos populares, servindo nos trabalhos internos de sua comunidade religiosa, etc. Se o Franciscano assume o sacerdócio, ele também serve a Igreja na pregação, na administração dos sacramentos e no acompanhamento das comunidades em uma determinada diocese.


Conversão de Francisco e os primeiros frades


Francisco nasceu provavelmente em setembro de 1182 na cidade de Assis, Itália. Ele veio a morrer nesta mesma cidade ao entardecer do dia 3 de outubro de 1226. Sua vida durou 44 anos. Era filho de Pedro Bernardone.
Jovem, Francisco viveu toda esta transformação que falamos no item anterior. A instituição das "comunas", a queda do sistema feudal, as guerras, o surgimento da burguesia, etc. Alguns fatores do seu tempo irão marcar profundamente a sua vida e seu caráter. Ele não era um jovem diferente dos outros que haviam em Assis. Gostava de festas, bebidas, diversões, etc. tinha um grande desejo: o de se tornar um cavaleiro famoso. Então foi para a guerra e tendo sido preso, Deus revelou a ele um outro caminho, um outro modo de ser grande: seguir Jesus Cristo. Francisco ao ser libertado, voltou para Assis e iniciou uma caminhada totalmente voltada para Deus. Deixou tudo que possuía: dinheiro, casa, família, prestígios, etc., e foi seguir o Senhor que lhe chamava. Passou a viver em pobreza absoluta, a ponto de ser considerado por todos um louco. Mas alguns jovens perceberam que ali havia algo de diferente e de muito grande. Então se desfizeram de tudo o que possuíam e também foram seguir Jesus Cristo, a modo de Francisco. O primeiro deles foi Bernardo, depois Pedro Catani, Egídio, e muitos outros. Então foi preciso escrever uma regra de vida, para que todos pudessem seguir o Evangelho sem o perigo de errarem. Após escrevê-la, Francisco foi à Roma e o papa aprovou o seu estilo de vida, dando início assim a Ordem dos Frades Menores (OFM).