terça-feira, 11 de agosto de 2009

SANTA CLARA DE ASSIS

“Escuta, filha, vê e presta atenção,Esquece o teu povo e a casa de teu pai.De tua Beleza se encantará o rei;Ele é teu Senhor, inclina-te diante dele!”(Salmo 44)

Chiara Favarone di Offreduccio nasceu a 16 de julho de 1194, em Assis. Seu nome, dado pela mãe, é a sua carteira de identidade: “Clara de nome, mais clara por sua vida e claríssima nas virtudes” (1Cel 8 ). Esta é a nossa Clara de Assis, Santa Clara, Mãe e Irmã, sopro do Espírito, luz para os que buscam as trilhas do sagrado e a plenitude do humano! Santa Clara morreu aos 11 de Agosto de 1253, no Convento de São Damião, aos sessenta anos, apertando nas mãos e no coração a Regra de Vida aprovada por Inocêncio IV, seu sonho, vocação e realização.
Aos dezoito anos, no dia 19 de Março de 1212, junta-se a Francisco de Assis, na Igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula e, a partir dali, Assis e o mundo ganham um modo fascinante e próprio de encarnar o Evangelho. A gentil dama assisiense diz adeus aos projetos da família biológica, às ofertas do mundo, à sua beleza e aos dotes matrimoniais, à riqueza, ao palácio, castelo e nobreza, à presença na sociedade de Assis, e vai, com sensibilidade e coragem indomável, seguir os caminhos do Senhor numa nova família espiritual. Esta escolha juvenil teve as marcas da fidelidade por quarenta anos.
Na sua adolescência e juventude, antes de seguir radicalmente o Evangelho e o jeito de Francisco, Clara já acolhia, atendia, cuidava e nutria enfermos, pobres e leprosos. Distribuía sorrisos, presença, sopa, ataduras e aquele modo feminino de aliviar as misérias de então. Uma mulher como ela, destinada às cortes e aos príncipes, que encontra tempo para os que estão fora do status e da riqueza, só pode inaugurar um virtuoso caminho que leva à santidade.
Esta mulher bela, inteligente, amável, segura, piedosa e admirada, constrói no jeito natural de sua juventude, a grande fundadora da Segunda Ordem, as Damas Pobres, as Reclusas de São Damião, as Damianitas, enfim as Clarissas. Quem tem uma vida concreta arrasta atrás de si seguidoras: Inês e Beatriz, suas irmãs de sangue, sua mãe Ortolana, cinqüenta Irmãs naquele primeiro Mosteiro de Assis e tantíssimas Irmãs Clarissas espalhadas pelo mundo. Quem são as Clarissas? Vamos buscar a resposta nas Fontes primitivas:
O biógrafo medieval, Tomás de Celano, assim diz: “Este é aquele feliz e santo lugar em que, decorrido já o espaço de quase seis anos da conversão do bem-aventurado Francisco, teve feliz início, por intermédio do mesmo homem bem-aventurado, a gloriosa Religião e excelentíssima Ordem das Damas Pobres e virgens santas; neste lugar, viveu a Senhora Clara, oriunda da cidade de Assis, pedra preciosa e fortíssima, fundamento de outras pedras sobrepostas.(...) Ela foi posta como proveito para muitas e, como exemplo, para inúmeras. Nobre pela estirpe, mais nobre pela graça; virgem no corpo, castíssima no espírito; jovem na idade, mas madura no espírito; firme no propósito e ardentíssima no desejo do amor divino; dotada de sabedoria e de especial humildade.(...) Sobre ela ergueu-se a nobre estrutura de preciosíssimas pérolas, cujo louvor provém não dos homens, mas de Deus (Rm2,29), visto que nem a limitada faculdade de pensar é capaz de meditá-la, nem a concisa linguagem é capaz de explicá-la. Pois, antes de tudo, vigora entre elas a especial virtude da mútua e contínua caridade que de tal forma une as vontades delas que, morando juntas quarenta ou cinquenta no mesmo lugar, o mesmo querer e o mesmo não querer fizeram nelas de diversos um único espírito. Em segundo lugar, em cada uma brilha a gema da humildade que de tal modo conserva os dons concedidos e os bens recebidos dos céus que merecem as demais virtudes. Em terceiro lugar, o lírio da virgindade e da castidade de tal maneira asperge todas com admirável odor que, esquecidas dos pensamentos terrenos, elas desejam meditar unicamente os celestes, e de fragrância dele nasce tão grande amor para com o Esposo eterno nos corações delas que a integridade deste sagrado afeto exclui delas todo costume da vida anterior. Em quarto lugar, todas foram marcadas pelo título da altíssima pobreza a ponto de mal ou nunca consentirem em satisfazer a extrema necessidade do alimento e da veste” (1Cel 8, 18-19).
Juntemos a esta precisa descrição de Celano a verdade de que Clara e suas filhas tem a coragem de centrar toda a energia do amor no Único Esposo, um amor incondicional, um amor de intimidade; que encontram na oração e na contemplação os canais mais convergentes para o Divino; na quietude e na solicitude, na fraternidade e na atividade, na minoridade e na benignidade, a tarefa de amar e servir.
Clara e Irmãs Clarissas, tronco da mesma raiz, flores femininas da mesma planta; missionárias da prece, comunhão eclesial, guardiãs do melhor que o Carisma tem: revelação, inspiração, reconstrução. Elas cuidam do manancial de onde brota a nossa vida evangélica franciscana, água viva com sabor clariano, que não podemos deixar de beber. Na Festa de Santa Clara vamos pedir a bênção para a Mãe!

Por Frei Vitório Mazzuco, OFM

Fonte:http://www.franciscanos.org.br/v3/carisma/especiais/2009/santaclara/09.php

sábado, 8 de agosto de 2009



O Rio São Francisco: acqua mater
Dom frei Luiz Flávio Cappio (*)

Antes de viajar para a Alemanha para receber o Título de Cidadão do Mundo(2), dia 5 de maio de 2009, na PUC Minas, em Belo Horizonte, MG, na abertura do III Simpósio Internacional de Teologia e Ciências da Religião, Dom Cappio, o bispo que já fez duas greves de fome contra a Transposição de águas do Rio São Francisco e pela defesa do Rio São Francisco e do seu Povo, nosso querido frei Luz proferiu a seguinte conferência:

Que mundo deixaremos para nossos filhos, netos? Que planeta estamos preparando para as futuras gerações?É uma questão elementar de justiça. O sagrado direito que cada um de nós possui de poder viver em um ambiente sadio, digno de seres humanos, propício à vida com qualidade para cidadãos e cidadãs deste planeta, corresponde ao igual dever que nos compete de propiciar estes mesmos direitos às futuras gerações. Herdamos um mundo, um planeta que nos foi legado por aqueles que vieram antes de nós, que prepararam a casa onde hoje moramos, onde vivemos, onde realizamos nossa existência.Cabe-nos fazer o mesmo para aqueles e aquelas que virão depois de nós, que herdarão o planeta que tivermos preparado para eles. Isso e uma questão de justiça.
Amanhã, quando o sol nascer de novo com seu calor e vida; As flores nos acolherem com suas variadas cores e perfumes; Ouvirmos o canto dos pássaros e a brisa fresca beijando nosso peito; Nossos lábios sorverem as águas puras da fonte enquanto contemplamos as verdes altas montanhas e o azul profundo dos oceanos;Poderemos ouvir dos que virão depois de nós: "Obrigado pelo mundo que vocês prepararam para nós. Obrigado pelo planeta, qual jardim, que vocês nos legaram. Obrigado pelas sementes de vida que vocês plantaram para que pudéssemos colher seus abundantes frutos. Obrigado, muito obrigado."Ou, depois de amanhã, quando não mais houver amanhecer, mas apenas uma claridade enfumaçada, coberta por nuvens ácidas;Quando nossa visão enfraquecida e nossos corpos se esvair em feridas purulentas provocadas pela radiação tóxica causada pelo enfraquecimento da camada de ozônio; Quando, em vez de água, tivermos que beber um suco pastoso de coliformes fecais temperado com ingredientes químicos das mais nocivas origens;Quando a paisagem se tornar um imenso deserto sem vida, sem a canção dos pássaros, sem a melodia de vozes humanas, porque ninguém mais terá ânimo para cantar e sim para gritar desesperadamente pelas dores lancinantes de ossos e músculos em decomposição;E as mães, por amor, tiverem que abortar os filhos para que não sejam mais sofredores condenados a esse vale de lágrimas;Ouviremos nossos filhos e netos, com dedo em riste apontando para nós, olhos esbugalhados, roendo palavras desconexas de ódio e rancor, gritarem: "Malditos, demônios, filhos das trevas e do mal, olhem para esse inferno para o qual fomos condenados. Vocês são os responsáveis pela desgraça que nos envolve, fazendo-nos desgraçados com elas."Que mundo, que planeta legaremos para nossos filhos e netos? Isso é uma questão de justiça. Poderemos ser justos cumprindo nosso sagrado dever de zelar e cuidar dessa riqueza infinitaque nos foi confiada, ou podemos ser profundamente injustos assumindo a postura irresponsável e inconsequente dos que apenas exploram e usufruem do tesouro de incomensurável valor que é a natureza, mãe da vida.“Deus perdoa sempre, os seres humanos, de vez em quando, a natureza não perdoa nunca”. Se nós a agredirmos, mais cedo ou mais tarde ela dará sua resposta. A vida que hoje vivemos herdamos de nossos ancestrais. Nós estamos construindo o Planeta em que os que virão depois de nós nele viverão. A vida não se improvisa. Em cinco minutos colocamos no chão uma árvore centenária. Serão necessários mais cem anos para que tenhamos outra semelhante. Isso se tivermos o cuidado de plantar outra e cuidar, cuidar e cuidar.

fonte: http://www.franciscanos.org.br/ecologia/agua/artigos2009/19.php

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Quem são os Franciscanos?

Os Franciscanos são pessoas que fizeram uma opção: a de deixar que Deus realize em sua vida o seu plano de amor, e busca viver o Evangelho como Francisco viveu.
A vida Religiosa Franciscana caracteriza-se por alguns aspectos particulares:

A vida de Fraternidade

· Frater vem do latim e significa irmão. O frade é aquele que busca viver em comunidade, formando uma família, sendo irmão de todos. Francisco viveu uma intensa relação de fraternidade com Cristo, o que fez dele um dom para os seus irmãos. E ele recomenda aos frades: "E sejam irmãos entre si".

A vida de Pobreza

· Francisco deixou tudo, riquezas, prestígios e até a própria família para seguir Jesus Cristo pobre. O Franciscano caracteriza-se pela sua doação total a Deus, desfazendo-se de tudo aquilo que possa distanciá-lo do seu Senhor. Sem nada de próprio, o frade é aquele que só tem uma tarefa: ser dom gratuito de Deus aos irmãos.

A vida de Obediência

· Deixando tudo, Francisco só quis saber de uma coisa: cumprir a vontade de Deus. E isto se deu imitando Cristo obediente. O frade Franciscano é aquele que renúncia todas as vontades pessoais, todos os teus quereres, e passa a querer somente uma única coisa: fazer a vontade de Deus. E este Deus é visto na pessoa dos seus superiores (ao papa, ao geral da ordem, ao seu ministro provincial e a seu guardião).

A vida de Castidade

· São Francisco renunciou todas as paixões deste mundo para viver somente para uma paixão: Jesus Cristo. O Franciscano renuncia as paixões humanas para que, imitando Jesus Cristo, ele esteja inteiramente a serviço de seu Reino.


A vida de Minoridade

· Francisco quis viver entre os pobres, por isso se fez menor. O Franciscano é aquele que quer ser como Francisco, um menor entre os menores. Através de suas atitudes, o frade busca ser pequeno. O Frade Menor é um homem que procura estar junto aos menores e pobres e compromete-se com eles e com a promoção da justiça social.


A Vida de Oração

· São Francisco buscou viver uma intensa experiência de oração. Estava sempre em diálogo com Deus. O Frade Franciscano é aquele que procura estar sempre em comunhão e em diálogo com Deus contemplando as coisas do alto e tendo uma profunda vivência de oração.


Quem entra na vida Religiosa Franciscana não tem como objetivo primeiro ser sacerdote, ser padre. Tem, em primeiro lugar, a vontade de ser franciscano, de ser irmão, de ser frade. O ideal de vida dos Franciscanos é o mesmo para todos: seguir Jesus Cristo a modo de Francisco de Assis. O que todos tem de comum é a consagração religiosa, de serviço a Deus e aos irmãos. Por isso, dentro da fraternidade não dever haver discriminação se este é padre e aquele irmão, pois antes de ser padre o franciscano tem como primeiro objetivo e compromisso ser irmão. Eles devem se ajudar mutuamente, animando-se nas dificuldades e convivendo fraternalmente. O Franciscano, no serviço à Igreja e as comunidades cristãs, prestam diferentes formas de serviços: trabalhando com o povo, catequizando, assistindo aos doentes, em movimentos populares, servindo nos trabalhos internos de sua comunidade religiosa, etc. Se o Franciscano assume o sacerdócio, ele também serve a Igreja na pregação, na administração dos sacramentos e no acompanhamento das comunidades em uma determinada diocese.


Conversão de Francisco e os primeiros frades


Francisco nasceu provavelmente em setembro de 1182 na cidade de Assis, Itália. Ele veio a morrer nesta mesma cidade ao entardecer do dia 3 de outubro de 1226. Sua vida durou 44 anos. Era filho de Pedro Bernardone.
Jovem, Francisco viveu toda esta transformação que falamos no item anterior. A instituição das "comunas", a queda do sistema feudal, as guerras, o surgimento da burguesia, etc. Alguns fatores do seu tempo irão marcar profundamente a sua vida e seu caráter. Ele não era um jovem diferente dos outros que haviam em Assis. Gostava de festas, bebidas, diversões, etc. tinha um grande desejo: o de se tornar um cavaleiro famoso. Então foi para a guerra e tendo sido preso, Deus revelou a ele um outro caminho, um outro modo de ser grande: seguir Jesus Cristo. Francisco ao ser libertado, voltou para Assis e iniciou uma caminhada totalmente voltada para Deus. Deixou tudo que possuía: dinheiro, casa, família, prestígios, etc., e foi seguir o Senhor que lhe chamava. Passou a viver em pobreza absoluta, a ponto de ser considerado por todos um louco. Mas alguns jovens perceberam que ali havia algo de diferente e de muito grande. Então se desfizeram de tudo o que possuíam e também foram seguir Jesus Cristo, a modo de Francisco. O primeiro deles foi Bernardo, depois Pedro Catani, Egídio, e muitos outros. Então foi preciso escrever uma regra de vida, para que todos pudessem seguir o Evangelho sem o perigo de errarem. Após escrevê-la, Francisco foi à Roma e o papa aprovou o seu estilo de vida, dando início assim a Ordem dos Frades Menores (OFM).


A cidade de Assis no tempo de Francisco

Assis é uma cidade situada no centro da Itália. Francisco viveu entre 1182-1226. Portanto estamos falando de um período da história chamado: Idade Média. Foi um tempo muito difícil para a Igreja e para o povo. Por esta época estava em transição o sistema feudal para as chamadas comunas (cidade). No sistema feudal quem mandava era o senhor feudal, dono de todo o feudo, ele morava num castelo bem protegido. Todos aqueles que moravam em suas propriedades, geralmente os camponeses que cultivavam a terra, juravam "vassalagem" ao senhor feudal, ou seja, quando houvesse guerra, eles eram obrigados a defenderem os seus senhores. No tempo em que viveu Francisco este sistema estava acabando e começava a surgir as "cidades". O povo, aos poucos deixou os campos e foi para as cidades formando os burgos onde se dedicava a outros afazeres como artesanatos, comércio, etc.. Aos poucos as cidades foram se tornando tão fortes que começaram a se expandir. E aí então vieram as guerras. Primeiro contra os senhores feudais e depois entre cidades e cidades. Formou-se na cidade uma nova classe social, a "burguesia" integrada pelos artesãos vendedores e os grandes comerciantes. Estes últimos, os comerciantes, alcançaram uma grande prosperidade econômica e por fins do século XII competiam com a nobreza em luxo e cultura.
Assis ainda hoje é conservada com suas características medievais. Ela está construída nas encostas do monte Subásio. Localiza-se no centro da Itália, na região chamada Úmbria. Era uma cidade rica em tradições de nobres cavaleiros.

VOCAÇÃO FRANCISCANA

A vocação à vida religiosa franciscana é um modo especial de seguir Jesus Cristo nas pegadas de São Francisco de Assis. Para entendermos melhor este modo de seguir Jesus Cristo, vamos antes conhecer um pouco sobre quem foi Francisco de Assis e seu tempo.